A rua que toca e transforma !!!

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* Leitura realizada no 23º Encontro do Projeto Social *

Poema de Carolina Maria de Jesus (a primeira parte) - Moradora de rua, década de 50.
Carolina Lisboa (a segunda parte) - Colaboradora do projeto e ativista social.

"Temos só um jeito de nascer e muitos de morrer.

...Hoje tem muito papel no lixo. Tem tantos catadores de papéis nas ruas. Tem os que catam e deitam-se embriagados. Conversei com um catador de papel.

Porque é que não guarda o dinheiro que ganha?

Ele olhou-me com o seu olhar de tristeza.

A senhora me faz rir! Já foi o tempo que a gente podia guardar dinheiro. Eu sou um infeliz. Com a vida que levo não posso ter aspiração. Não posso ter um lar, porque um lar inicia com dois, depois vai multiplicando.

Ele olhou-me e disse-me:

Porque falamos disso? O nosso mundo é a margem. Sabe onde estou dormindo?

Debaixo das pontes. Eu estou doido. Eu quero morrer!

Quantos anos tem?

24, mas já enjoei da vida.

Segui Pensando: quem escreve gosta de coisas bonitas, eu só encontro tristezas e lamentos."


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Meu nome é Carolina Maria de Jesus. É Plínio, é Jorge, é Esmeralda. Meu nome é [Pedro bala, Sem pernas, João de Deus, Gato, Professor], Israel, Davi, Joãozinho, Maria, Diego, William e todos os meninos abandonados do Pátio do Colégio.

Meu nome é Peterson, Wes, Roberto, Pequena e Valéria di Pietro.

Meu nome é Vilma, é Johnny, é Pamela, Rodrigo, Isa, Júlio, China, Escobar e Nathane Gabriele.

Meu nome é Carequinha, é Bebezão, é Jamescleiton, seu Juscelino, é Mauro, Tereza,

...é Paizão, Bahia, Moisés, Simone, César William, Jhennifer, Bernadete...

...é Ronaldo e seu Valério.

Meu nome é ninguém, é todos nós, é povo, é viaduto, é minhocão, é maloca, é alagado, é de atrás das grades, é ocupação, é Rua.

E a rua vive, a rua sobrevive, a rua transforma, a rua mata, a rua salva, a rua é mestra e apesar dos, com a licença de Plínio Marcos, apesar dos cidadãos contribuintes a rua vive, existe e resiste!